Em outro aniversário...
Hoje lembrei de uma bela passagem,na década de 80.
Se não me falha a memória,era o ano de 1988..eu estava voltando de um Supermercado,com meus dois filhos,minha Tia Emília e uma amiga,japonêsa D.Cecilia,quando ao parar numa esquina,que não era preferencial à mim,uma chinesa se jogou em cima do meu carro,gritando muito e com um menino no colo.Atrás dela vinha um outro menino de uns doze anos,traduzindo tudo o que ela estava falando desesperadamente.Por pouco,eu não a atropelei,entendi que o menino no colo da mãe,havia engasgado com uma bala Soft(lembram-se?Era deliciosa,mas perigosíssima,porque era muito lisa)e ela queria levá-lo ao Hospital,mas ninguém parava para socorrê-la.Foi tudo muito rápido,não deu tempo prá eu pensar,quando percebi eu já estava correndo que nem uma louca para chegar num Hospital mais próximo,nem sei como consegui chegar,porque a moça gritava tanto,que quase bato o carro num ônibus,por muito pouco.
Levei-a para a Maternidade de Campinas,que era o hospital mais próximo,de onde eu me encontrava.
Ali mesmo já pegaram o menino e levaram para a sala de cirurgia e eu,desmaiei,quando acordei eu estava deitada numa maca,numa sala do Pronto-Socorro.
Minha pressão caiu e eu pumba!...capotei.
Também com o susto que eu levei,com a moça gritando no meu ouvido,nem sei como consegui chegar ao Hospital.Acordei e minhas crianças estavam chorando..foi um auê...
Resumindo:quando consegui encontrar a moça novamente,esta se ajoelhou e me beijava a mão e falava em chinês comigo,agradecendo por eu ter salvo a vida do filho dela.
Se eu não tivesse passado naquela esquina naquele momento,o menino teria morrido.
Naquele momento nasceu uma bela amizade,entre eu e ela.
O menino ficou,dois dias internado no Hospital,para se recuperar.E os médicos,resolveram fazer um exame mais detalhado,porque acharam que o menino tinha algum problema.
Quando ele tinha mêses,ele caiu e bateu a cabecinha no chão.Onde bateu,formou um coágulo no cérebro,não perceberam e o menino ficou com problemas sérios.Imaginem voces:se não tivesse acontecido isso,talvez eles demorassem para descobrir o problema grave que ele tinha.
Começou o tratamento seríssimo,com poucas chances de recuperação.
Ficamos amigas...nunca esqueço o dia que eu fui visitá-la na casa dela.Quando ela me viu,fez eu entrar,não sabia o que fazia para me agradar,à mim e aos meus filhos...foi logo buscar refrigerante,doces,frutas,queria me dar de tudo,fiquei até sem jeito.Depois veio com um mostruário de brincos,nunca esqueci,lindos,maravilhosos,oferecia prá eu pegar um,eu não entendia muito bem e o filho mais velho ia traduzindo,dizendo que a mãe queria me presentear com brincos chinêses,fiquei numa situação que nem sabia o que eu falava para ela.Enfim,fez eu pegar um,queria que eu pegasse outros,mas eu não quis.Guardo-o até hoje...
Convidava-a para o aniversário de meus filhos,ela vinha com as crianças...a menina então era um doce.Ela tinha quatro filhos:dois meninos adolescentes,uma menina de cinco anos e esse menino de dois...Eu gostava muito dela,embora ela não falasse a nossa língua,era uma boa pessoa,doce.
O marido era Engenheiro na antiga SINGER...estavam no Brasil há 4 anos.
Resolveram tratar o menino na China.Deixaram os dois maiores com um parente aqui em Campinas e foram para China.Ficaram quase um ano,voltaram sem esperança nenhuma.
Retornaram,ficaram mais uns mêses aqui e foram embora para SP.Perdemos o contato.Uns anos depois,conheci um sobrinho dela aqui e ele me falou que ela estava morando na Liberdade em SP...peguei o endereço e fui visitá-la.Lembro até hoje do encontro emocionante..o menino já estava com cinco anos.Ficou deficiente,como eu senti,..a menina estava se destacando na escola e os dois maiores estavam estudando aqui em Campinas,entraram na UNICAMP,um deles estava fazendo Medicina.Foi a última vez que a vi...que pena,eu gostava muito dela.
Gostaria de revê-la novamente,já procurei-a pela internet,mas o sobrenome Lee é como Silva aqui no Brasil.Se alguém ler o que narrei aqui e, souber dela por favor,deixe um recado aqui.
Foi uma das amizades mais emocionantes que fiz nessa minha vida.Encontrávamos sempre,quando eles moravam aqui.Outro dia passei em frente a casa que eles moravam aqui na Vila Nova e bateu uma saudades daquele tempo em que ela morava lá.
Nunca vi uma pessoa tão dedicada à família.Ela levantava às três da manhã e ia para a máquina de costura,fazer bonecas e bolsinhas para vender na Feira Hippie aos sábados aqui em Campinas.Tudo o que ela fazia era bonito...
Quando eles voltaram da China,trouxeram um container de presentes,por navio.Acreditem se quiser:violaram o container e roubaram quase toda a mercadoria deles,chegaram apenas cxs vazias...um crime.
E ela trouxe para mim uma pulseira em porcelana,banhada à ouro..sorte que veio na mala dela..guardo-a até hoje...nunca usei...toda vez que vejo,lembro-me dela com saudades.
Sonia, que história emocionante!
ResponderExcluirO que se faz pela vida gera uma gratidão imensa, ainda mais por um filho.
Também conheci uma descendente de japoneses que gostaria muito de revê-la, mas perdi totalmente o contato.
As boas lembranças ficam e você precisava estar lá naquele lugar para que tudo isso acontecesse.
Bjs.
Gina
ResponderExcluirSe eu não tivesse passado lá naquele momento,o menino teria morrido,porque ninguém havia parado para ajudá-la.
Bjs