Os quitutes mineiros de D.Maria...

Os quitutes mineiros de Dona Maria

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Sempre conto algumas história de minhas viagens a Minas Gerais, principalmente quando vou até a casa de Dona Maria, que vive à beira do fogão, fazendo aquelas coisinhas maravilhosas. Da última vez que estive lá, em novembro, dei uma chegadinha na casa dela. Fui entrando e gritando:
– Dona Maria estou chegando!Ela logo respondeu:– Entra filha!
Neste momento, imaginei Dona Maria fazendo o seu ritual de sempre: o de se benzer sempre quando alguém bate à sua porta.
E lá vou eu com todo o meu coração transbordando de alegria, naquela imensa cozinha e encontro Dona Maria atrapalhada à beira do fogão, com uma grande panela cheia de massa de pamonha. Eita trem bão!
Vocês precisavam ver que beleza. Era tanta massa, tanta massa que imagino o quanto de milho ela levou para descascar e ralar. Sim amigos, ralar! Lá não tem liquidificador não. É tudo no braço mesmo.
Fiquei tão empolgada com a tal da massa que até esqueci de pedir a receita. Foi a coisa mais linda do mundo vê-la enrolar as palhas de milho e colocar a massa dentro. Isso me faz lembrar da mamãe quando fazia a pamonha e costurava os saquinhos na máquina. Ali estava um segredo que há muito tempo eu estava curiosa para aprender.
Achei uma graça ela na maior calma fazendo aquelas pequenas trouxinhas e colocando uma ao lado das outras. Enquanto isso, lá fora estava o grande tacho de cobre com a água fervendo a esperar aquelas trouxinhas maravilhosas.
Ao passar pela varanda, senti um cheirinho de coisa assada. Além das pamonhas, ela estava fazendo as broas de fubá, a broa de pau-a-pique e os biscoitos de polvilho. Agüenta coração! Não é que cheguei no dia certo. O das "quitandas". Quase morro do coração de ver tanta belezura junta. Na mesma hora, peguei minha máquina e comecei a fotografar. Dona Maria ria enquanto eu fazia as fotos.
Vocês já viram como é o processo de enrolar a broa de pau-a-pique? A massa é a mesma da pamonha, mas é enrolada na folha de bananeira. É simplesmente divino, maravilhoso. Ela escolhe folhas bem lisas e corta com a faca pedaços grandes da folha de bananeira. Depois disso, coloca a massa no centro e vai enrolando que nem rocambole. Leva ao forno à lenha – que já está tinindo de bom – e vai colocando aquele mundão de rolinhos.
Por fim, fecha o forno e deixa lá bem quietinho. Não demora muito para assar e abre o forno. Surpresa! Meu Deus do céu, que trem bão!
Eu comi tanta coisa que nem precisei almoçar, nem tomar o café da tarde. Não fiquei para comer a pamonha, mas quando cheguei na Pousada, elas já estavam me esperando: biscoitos, pamonha e broa de pau-a-pique.
Dona Maria, sempre trabalhando naquela imensa cozinha levanta muito cedo, coloca a lenha no fogão e já prepara o almoço para toda turma que trabalha na Oficina com seu marido e filhos.
Como ela mesmo diz, a vida na roça não é fácil. O trabalho é duro e desgastante. Desde o primeiro momento que a conheci – há 10 anos – nunca reclamou que estava cansada, triste ou até mesmo doente. Não pára um minuto de trabalhar e mesmo assim tem o sorriso mais doce que já vi.
Sempre que vou a sua casa,abraço-a.beijo seus cabelos grisalhos e saio com o coração partido e cheio de saudades.Entro no carro e ouço sua voz:Está cedo filha,fica mais um pouco.
Até que gostaria,mas meu coração não aguentaria.Fico com os olhos cheios de lágrimas e pela face dela também escorrem lágrimas de saudades.

Essa história foi escolhida para inaugurar im link do site:cybercook...A Receita e sua História...